quarta-feira, 26 de março de 2008

Sede de que?

Ainda que fôssemos surdos e mudos como uma pedra,
a nossa própria passividade seria uma forma de ação.

Jean-Paul Sartre

 

Talvez os causidicos de plantão entendam ipis litteris o que quis dizer Sartre e saibam apontar a legislação pertinente à esse pensamento brilhante. Mas não precisa entender Sartre e nem de Direito para entender sobre omissão.

A epidemia de dengue no Rio de Janeiro, é um caso claro de omissão do povo e de seus governantes. Pensem: Ano passado foi 25 mil casos. Esse ano, ainda estamos em março, já são mais de 27 mil casos. Acho que Cazuza cantaria: a tua piscina está cheia de larvas, tuas idéias não correspondem aos fatos.

O difícil é ler um livro de Sartre e entender, ler os sonetos de Shakespeare e se emocionar, ler Goethe e pensar ''esse cara foi um gênio!'' (Lucil Junior). Muitos citam-os para impressionar, conquistar, mas não entendem uma linha sequer daquele raciocínio, daquele verso.

Fico pensando nisso quando vejo vulgarizarem Clarice, Quintana...fazendo-os de poetas da auto-ajuda. Usam determinada estrofe para determinado momento de suas vidas, mas não entendem a complexidade do verso para suas próprias vidas. Mas, que vida? Haverá vida após a saciar a sede? Mas, tenho sede de que? Talvez, eu tenha sede de sobreviver a mim mesmo diante de minhas omissões ao virar as costas para as bifurcacões que eu encontro, ou para as realidades que vejo, mesmo estando de olhos fechados.

Vejo, nos hospitais e sobre o túmulo, pais chorando pela dor e perda de seus filhos. Vejo, ausência de médicos nos hospitais públicos. Vejo, pessoas doentes e assustadas por todos os lados. Vejo demora nos atendimentos, inclusive na rede particular. Quanto vale uma vida sob o prisma de seu contra-cheque doutor? Tudo isso ao meu redor e eu apenas me preocupo em fazer o meu papel social e correr ao mercado para comprar repelentes e insetisidas.

E eu pressiono o aplicador pra espantar mosquitos. Queria que servisse para espantar gente. Mas, o mosquito está resistindo a cada jato de veneno que jogo na sua cara. As pessoas também resistem. O mosquito se fortalece. As pessoas também. Ainda sinto as patas de algo sobre a minha pele, apesar do repelente que custou quatorze reais.

Minha boca está ressecada, tenho sede.  Um pedaço de sol desponta no RJ e logo, os ovos devidamente protegidos durante 2 anos eclodirão para que mais e mais pessoas façam parte de novas estatisticas mórbidas.

A foto que ilustra o post? Bem, é só para não esquecer que há outras estatistica do outro lado do mundo. Um outro mundo que faço questão de esquecer, de vez em quando com minha omissão.

Quando será o próximo feriadão?

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Tom Stoddart - Sudão - 1998

5 comentários:

Anônimo disse...

"Eu queria ter uma bomba!"

Pensamento Existencial disse...

Ah, a internet é uma "coisa"...

Pesquisando o meu endereço na internet, achei o bloggalaxia, algo assim, e assim achei o seu blog.. hahaha...

e vi que nele tinha um link para o meu... que rede maluca...

eu sou o Rodrigo que confabulou aula para bolar o amigo secreto entre os blogs no final do ano passado.. ahah


de passagem...

abraços

POEIRAS AO VENTO disse...

Ler Sartre, dá uma piradinha hem!! Talvez, tenha sido por isso que me tornei tao louca...
E me doi ler o que eu nao consigo ajudar...Sou uma bosta, que penso que ajudo o proximo tao mais necessitado que eu.
EU SOU UMA BOMBA! ME MATEM, POR FAVOR!

OAlbergueiro disse...

bato palmas para o teu texto...fico sem palavras...e só posso realmente bater palmas para tuas palavras...

Anônimo disse...

POR FAVOR, BRASIL É COM " S "