Ainda que fôssemos surdos e mudos como uma pedra,
a nossa própria passividade seria uma forma de ação.
Jean-Paul Sartre
Talvez os causidicos de plantão entendam ipis litteris o que quis dizer Sartre e saibam apontar a legislação pertinente à esse pensamento brilhante. Mas não precisa entender Sartre e nem de Direito para entender sobre omissão.
A epidemia de dengue no Rio de Janeiro, é um caso claro de omissão do povo e de seus governantes. Pensem: Ano passado foi 25 mil casos. Esse ano, ainda estamos em março, já são mais de 27 mil casos. Acho que Cazuza cantaria: a tua piscina está cheia de larvas, tuas idéias não correspondem aos fatos.
O difícil é ler um livro de Sartre e entender, ler os sonetos de Shakespeare e se emocionar, ler Goethe e pensar ''esse cara foi um gênio!'' (Lucil Junior). Muitos citam-os para impressionar, conquistar, mas não entendem uma linha sequer daquele raciocínio, daquele verso.
Fico pensando nisso quando vejo vulgarizarem Clarice, Quintana...fazendo-os de poetas da auto-ajuda. Usam determinada estrofe para determinado momento de suas vidas, mas não entendem a complexidade do verso para suas próprias vidas. Mas, que vida? Haverá vida após a saciar a sede? Mas, tenho sede de que? Talvez, eu tenha sede de sobreviver a mim mesmo diante de minhas omissões ao virar as costas para as bifurcacões que eu encontro, ou para as realidades que vejo, mesmo estando de olhos fechados.
Vejo, nos hospitais e sobre o túmulo, pais chorando pela dor e perda de seus filhos. Vejo, ausência de médicos nos hospitais públicos. Vejo, pessoas doentes e assustadas por todos os lados. Vejo demora nos atendimentos, inclusive na rede particular. Quanto vale uma vida sob o prisma de seu contra-cheque doutor? Tudo isso ao meu redor e eu apenas me preocupo em fazer o meu papel social e correr ao mercado para comprar repelentes e insetisidas.
E eu pressiono o aplicador pra espantar mosquitos. Queria que servisse para espantar gente. Mas, o mosquito está resistindo a cada jato de veneno que jogo na sua cara. As pessoas também resistem. O mosquito se fortalece. As pessoas também. Ainda sinto as patas de algo sobre a minha pele, apesar do repelente que custou quatorze reais.
Minha boca está ressecada, tenho sede. Um pedaço de sol desponta no RJ e logo, os ovos devidamente protegidos durante 2 anos eclodirão para que mais e mais pessoas façam parte de novas estatisticas mórbidas.
A foto que ilustra o post? Bem, é só para não esquecer que há outras estatistica do outro lado do mundo. Um outro mundo que faço questão de esquecer, de vez em quando com minha omissão.
Quando será o próximo feriadão?
Tom Stoddart - Sudão - 1998
5 comentários:
"Eu queria ter uma bomba!"
Ah, a internet é uma "coisa"...
Pesquisando o meu endereço na internet, achei o bloggalaxia, algo assim, e assim achei o seu blog.. hahaha...
e vi que nele tinha um link para o meu... que rede maluca...
eu sou o Rodrigo que confabulou aula para bolar o amigo secreto entre os blogs no final do ano passado.. ahah
de passagem...
abraços
Ler Sartre, dá uma piradinha hem!! Talvez, tenha sido por isso que me tornei tao louca...
E me doi ler o que eu nao consigo ajudar...Sou uma bosta, que penso que ajudo o proximo tao mais necessitado que eu.
EU SOU UMA BOMBA! ME MATEM, POR FAVOR!
bato palmas para o teu texto...fico sem palavras...e só posso realmente bater palmas para tuas palavras...
POR FAVOR, BRASIL É COM " S "
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