A Morte do Amor
(Alexandre Inagaki)
Todos os dias morre um amor. Quase nunca percebemos, mas todos os dias morre um amor. Às vezes de forma lenta e gradativa, quase indolor, após anos e anos de rotina. Às vezes melodramaticamente, como nas piores novelas mexicanas, com direito a bate-bocas vexaminosos, capazes de acordar o mais surdo dos vizinhos. Morre em uma cama de motel ou em frente à televisão de domingo. Morre sem beijo antes de dormir, sem mãos dadas, sem olhares compreensivos, com gosto de lágrima nos lábios. Morre depois de telefonemas cada vez mais espaçados, cartas cada vez mais concisas, beijos que esfriam aos poucos. Morre da mais completa e letal inanição.
Todos os dias morre um amor. Às vezes com uma explosão, quase sempre com um suspiro. Todos os dias morre um amor, embora nós, românticos mais na teoria do que na prática, relutemos em admitir. Porque nada é mais dolorido do que a constatação de um fracasso. De saber que, mais uma vez, um amor morreu. Porque, por mais que não queiramos aprender, a vida sempre nos ensina alguma coisa. E esta é a lição: amores morrem.
Todos os dias um amor é assassinado. Com a adaga do tédio, a cicuta da indiferença, a forca do escárnio, a metralhadora da traição. A sacola de presentes devolvidos, os ponteiros tiquetaqueando no relógio, o silêncio ensurdecedor depois de uma discussão: todo crime deixa evidências.
Todos nós fomos assassinos um dia. Há aqueles que, feito Lee Harvey Oswald, se refugiam em salas de cinema vazias. Ou preferem se esconder debaixo da cama, ao lado do bicho-papão. Outros confessam sua culpa em altos brados, fazendo de penico os ouvidos de infelizes garçons. Há aqueles que negam, veementemente, participação no crime, e buscam por novas vítimas em salas de chat ou pistas de danceteria, sem dor ou remorso. Os mais periculosos aproveitam sua experiência de criminosos para escrever livros de auto-ajuda com nomes paradoxais como O Amor Inteligente ou romances açucarados de banca de jornal, do tipo A Paixão Tem Olhos Azuis, difundindo ao mundo ilusões fatais aos corações sem cicatrizes.
Existem os amores que clamam por um tiro de misericórdia: corcéis feridos.
Existem os amores-zumbis, aqueles que se recusam a admitir que morreram. São capazes de perdurar anos, mortos-vivos sobre a Terra teimando em resistir à base de camas separadas, beijos burocráticos, sexo sem tesão. Estes não querem ser sacrificados, e, à semelhança dos zumbis hollywoodianos, também se alimentam de cérebros humanos, definhando paulatinamente até se tornarem laranjas chupadas.
Existem os amores-vegetais, aqueles que vivem em permanente estado de letargia, comuns principalmente entre os amantes platônicos que recordarão até o fim de seus dias o sorriso daquela ruivinha da 4ª série, ou entre fãs que ainda suspiram em frente a um pôster do Elvis Presley (e, pior, da fase havaiana). Mas titubeio em dizer que isso possa ser classificado como amor (bah, isso não é amor; amor vivido só do pescoço pra cima não é amor).
Existem, por fim, os amores-fênix. Aqueles que, apesar da luta diária pela sobrevivência, das contas a pagar, da paixão que escasseia com o decorrer dos anos, da TV ligada na mesa-redonda ao final do domingo, das calcinhas penduradas no chuveiro e das brigas que não levam a nada, ressuscitam das cinzas a cada fim de dia e perduram – teimosos, e belos, e cegos, e intensos. Mas estes são raríssimos, e há quem duvide de sua existência. Alguns os chamam de amores-unicórnio, porque são de uma beleza tão pura e rara que jamais poderiam ter existido, a não ser como lendas. Mas não quero acreditar nisso.
Um dia vou colocar um anúncio, bem espalhafatoso, no jornal.
PROCURA-SE: AMOR-FÊNIX
(oferece-se generosa recompensa)
Todos os dias morre um amor. Às vezes com uma explosão, quase sempre com um suspiro. Todos os dias morre um amor, embora nós, românticos mais na teoria do que na prática, relutemos em admitir. Porque nada é mais dolorido do que a constatação de um fracasso. De saber que, mais uma vez, um amor morreu. Porque, por mais que não queiramos aprender, a vida sempre nos ensina alguma coisa. E esta é a lição: amores morrem.
Todos os dias um amor é assassinado. Com a adaga do tédio, a cicuta da indiferença, a forca do escárnio, a metralhadora da traição. A sacola de presentes devolvidos, os ponteiros tiquetaqueando no relógio, o silêncio ensurdecedor depois de uma discussão: todo crime deixa evidências.
Todos nós fomos assassinos um dia. Há aqueles que, feito Lee Harvey Oswald, se refugiam em salas de cinema vazias. Ou preferem se esconder debaixo da cama, ao lado do bicho-papão. Outros confessam sua culpa em altos brados, fazendo de penico os ouvidos de infelizes garçons. Há aqueles que negam, veementemente, participação no crime, e buscam por novas vítimas em salas de chat ou pistas de danceteria, sem dor ou remorso. Os mais periculosos aproveitam sua experiência de criminosos para escrever livros de auto-ajuda com nomes paradoxais como O Amor Inteligente ou romances açucarados de banca de jornal, do tipo A Paixão Tem Olhos Azuis, difundindo ao mundo ilusões fatais aos corações sem cicatrizes.
Existem os amores que clamam por um tiro de misericórdia: corcéis feridos.
Existem os amores-zumbis, aqueles que se recusam a admitir que morreram. São capazes de perdurar anos, mortos-vivos sobre a Terra teimando em resistir à base de camas separadas, beijos burocráticos, sexo sem tesão. Estes não querem ser sacrificados, e, à semelhança dos zumbis hollywoodianos, também se alimentam de cérebros humanos, definhando paulatinamente até se tornarem laranjas chupadas.
Existem os amores-vegetais, aqueles que vivem em permanente estado de letargia, comuns principalmente entre os amantes platônicos que recordarão até o fim de seus dias o sorriso daquela ruivinha da 4ª série, ou entre fãs que ainda suspiram em frente a um pôster do Elvis Presley (e, pior, da fase havaiana). Mas titubeio em dizer que isso possa ser classificado como amor (bah, isso não é amor; amor vivido só do pescoço pra cima não é amor).
Existem, por fim, os amores-fênix. Aqueles que, apesar da luta diária pela sobrevivência, das contas a pagar, da paixão que escasseia com o decorrer dos anos, da TV ligada na mesa-redonda ao final do domingo, das calcinhas penduradas no chuveiro e das brigas que não levam a nada, ressuscitam das cinzas a cada fim de dia e perduram – teimosos, e belos, e cegos, e intensos. Mas estes são raríssimos, e há quem duvide de sua existência. Alguns os chamam de amores-unicórnio, porque são de uma beleza tão pura e rara que jamais poderiam ter existido, a não ser como lendas. Mas não quero acreditar nisso.
Um dia vou colocar um anúncio, bem espalhafatoso, no jornal.
PROCURA-SE: AMOR-FÊNIX
(oferece-se generosa recompensa)
>>>>>>>> Gostei muito desse texto e resolvi colocar por aqui no blog. Ele estava circulando na internet, mas não davam os devidos créditos ao autor. Então, pesquisando daqui e dali, acabei achando um crônica do autor em relação ao plágio da obra, e a categoria para a qual foi promovido - de "autor desconhecido" . Vale a pena ler.
>>>>>>>> Também já matei amor, amores...passantes. Matei, cremei, nem cinzas restaram, joguei tudo no vento. Acho que é por isso que gostei tanto desse texto. Muito bom realmente. Adorei. Mas quem não procura seu amor-fênix? Alguns já o encontraram, não é utópico...podem apostar. O problema é estar preparado para recebê-lo.
7 comentários:
Olá Beth,
sabe que esse texto para mim não faz o menor sentido? Certo, acredito que muita gente se identifique com ele, porém eu, fui sempre uma pessoas muito controlada, com pavor enorme(desde muito jovem)de sofrer por amor, então se as coisas começavam a ficar um pouquinho mais complicadas, eu desistia. Ás vezes não era fácil; demorei 3 anos a esquecer o rapaz errado! Mas valeu a pena porque mais tarde encontrei o meu marido, que é o companheiro que sonhei.
Espero que você encontre o seu!
Bom fim semana.
Bjs
Mas ele fala disso mesmo, dessa procura, desse encontro, mas para isso tem que estar aberto, disposto a encontrar, tem que estar preparado. Assim como você esteve.
Eu também já chorei anos e anos por uma pessoa. Sou igualzinha a você. Sou muito observadora e não é a toa que cancelei um casamento na porta do altar. Eu entendi o texto. Por isso que no final, nas minhas observações eu disse que já matei, cremei e joguei as cinzas no vento. Pois não concordo que sofrimentos, brigas e masserações amorosas sejam o verdadeiro amor. Enfim, mas cada um com seu cada um não é mesmo? Mandei 2 textos a um amigo meu chileno que não concordava com os dois, mas adorou esse aqui.
Ahhhhhhhhh ..... mas o importante, como disse para ele, é estar com as portas abertas, estar disposto a encontrar seu amor.
Bonita foto (del texto no digo na ke no lo entendi mucho jeje)
Saludos desde España!!
Nao sei o que doi mais: Se o assasinato do amor repetinamente, ou entao a sua morte lenta, dia a dia.
A morte lenta dia a dia para mim, como homem, é pior. Romper repentinamente, se desligar de alguém de forma abrupta é dolorido, principalmente quando vem acompanhado de traições, decepções. Mas essa morte diária? Passam-se dias, meses, anos e você defininhando junto com a relação? Eu acho bem pior. Chegar aos 25 anos de casamento e olhar para trás? Nao gostaria que acontecesse isso comigo. Nunca. Prefiro romper, sofrer por uns bons dias do que sofrer a vida inteira.
Marcelo com a concordância de Marina.
dor de amor é horrível, seja qual for a circunstância. este texto é mt bom. valeu, beth!, ter compartilhado aqui. ainda não tinha lido e é desses pra se fazer correr na internet! abração, querida!!!
concordo com o Marcelo o pior dos amores acho que é o que o texto denomina de "corcéis feridos"
é uma dor tanto pra que vive quanto pra quem assiste.
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