segunda-feira, 16 de abril de 2007

Cinco meninas



"Mulher é bicho esquisito."

Essa frase está na minha mente há uns bons dias. Resolvi falar desse bichinho esquisito que todo mês sangra - já cantou Rita Lee algum dia. Nem sempre o rosa choque impera na vida dela. Ela nasce, cresce, fica mocinha (e os loucos familiares comemoram - cruzes), se apaixona, namora, ama, desama, ama novamente, casa, tem filhos - ou não, estuda, trabalha e continua sangrando todo santo mês. Saem as toalhinhas das vovós, entra o modess, vem o OB para melhorar nossa ida à praia, mas o implante nos salva.

- É? salva de que?
- Tudo bem. Sua loucura fica ausente por um bom tempo e não suja tanto as calças brancas.

Ultimamente, tenho conhecido, participado e vivenciado uma confusão de sentimentos intensos, beirando ao divã. Os hormônios estão enlouquecidos, e enlouquecem as mentes anteriormente sãns. Falamos conturbadamente de amor, de trabalho, de expectativas, de sonhos, de anorexia, de bulimia, de dietas, de sexo, de rompimentos, de frustrações, e entre um sangramento e outro, ainda rimos, choramos copiosamente, amamos, crescemos, questionamos, sentimos até taquicardia e damos um basta naquilo que nos incomoda. Ah! Chega de putaria. Chega de homens malas, burros e grossos. Chega de amigos que não são amigos. Chega de dizer sim quando queremos dizer não. Chega de mais mais mais sem sentido nenhum. Até mesmo gritar, até mesmo dar o basta nos estressa, nos cansa, afinal, tem sempre alguém que faz de conta que não nos ouve.

O que mudou? O que não mudou? O tempo passou e o que você fez contigo?

E quatro meninas papeam enlouquecidas:

- Meninas, conseguir dizer que meu chefe é uma anta e pedi demissão.
- Qualquer dia mando todo mundo para aquele lugar também.
- Consegui me libertar. Me separei. Mas amigas, estou me sentindo só, vou viajar sempre.
- Mas não era isso que você queria? Se separar?
- Sim. Mas foi ele quem pediu.
- Sei. O tiro saiu pela culatra.
- Meninas. Descobri que ele me traia. Estou mal, estou triste, estou morrendo aos poucos.
- Você morre. Ele fica vivo e curtindo todas.
- Estou depressiva e com sindrome do pânico. Vocês acreditam nisso? Eu?
- Você também? Eu também. Amiga, temos algo em comum. Nossa depressão.
- O que há com vocês? Enlouqueceram? Nunca fomos assim.
- Acontece.
- Conosco?
- Mas o psiquiatra na TV disse que pobre não tem esse luxo, não se permite se sentir assim. Que depressão só acontece com quem pensa, quem é inteligente.
- Mas é verdade. Eles, os pobres, sofrem todas as mazelas, passam fome, moram mal, não tem luxo e não se permitem sentir o que sentimos. Somos anormais.
- Na próxima encarnação nasceremos pobres de marré de si e burras.
- Talvez seja a solução. E ainda disputaremos e arrancaremos os cabelos por àquele cara sem dentes, bêbado que se acha o dono do pedaço.
- Vocês divagam sobre nossa condição de pseudo depressivas, falam das nossa futura reencarnação na miséria e eu choro de tanta decepção no coração.
- Vai passar.
- É. Vai passar. Tudo passa e a fila sempre anda. Uma hora você encontra o cara que está na esquina esperando o táxi.
- Quer saber? É normal. Tem horas que não dá mesmo para engolir, para aturar e um vulcão de hormônios explodem sem sentido nenhum dentro de nós.
- Será TPM?
- Não. Não é TPM, é saco cheio mesmo!
- Mas ausência de TPM e saco cheio, levam ao divã?
- Sei lá. Deve levar. Eu estou lá.
- Também estou.
- Eu estou indo. E ainda não acredito que tomei essa decisão.
- Tudo bem, mas me digam o que faço com meu coração que está sangrando?
- Arruma outro.

Ficamos muito iradas quando não conseguimos extravassar algo e sentimos uma exploção por dentro. Muitas vezes esse não extravassar nos faz mal. Precisamos falar, gritar, cantar, pular, escrever, ou simplesmente sentar e ver o sol se pôr.

- Ô bando de enlouquecidas, cheguei e tenho novidades. Estou grávida.
- Ah! que fofo!
- Fofo? Falei para meu psiquiatra que não estou preparada para a maternidade.
- Outra com psiquiatra?
- Quando será que vou ter o meu? Me separei. Que droga. Preciso de um reprodutor.
- Coloca no jornal: mulher, bonita, independente, recém-separada, procura um reprodutor, deu vontade de ser mãe depois da separação.
- Mas como vão me chamar? Mãe solteira? Ou mãe separada solteira?

E um coro ecoou pela sala - VAI VIAJAR!

- Você vai escrever sobre a gente?
- Vou.
- Queria poder escrever também. Não consigo. Não sou boa nas palavras. Através de você, vejo a solução de minha vida. Me vejo na tela do computador.
- Advinhona. Epa! Mas não sou nem a solução para mim mesma, quanto mais para tua vida. Eu só escrevo.
- Cretina.
- Mas falo de mim também. Podem apostar. No fundo eu também só quero colo.

4 comentários:

Unknown disse...

Imagino até quem sejam as cinco meninas. Gosto de ler quando vocês se expôem de forma inteligente e sem medos.
Papo de mulher que homem não deve dar pitaco. Reverencio todas vocês.

Unknown disse...

Morri de rir com a parada da menina ficar mocinha. Quando a minha filha ficou mocinha o clã feminino ficou feliz, fizeram até festa. Mas com pãe presente, mandei logo a real: cara tu tá ferrada.
jajajajajaja
sou um pãe moderno e sincero.

beijão meninas
beijão Liz

Fernanda disse...

Super divertida essa conversa!Pareciam até as personagens do meu romance! O que prova de facto que a realidade ultrapassa a ficção.
Bjs.

Karina Kakai disse...

só uma coisa: tudo passa! até uva passa, ferro passa... rssssss!!! abraços, beth!!!!