domingo, 26 de abril de 2009

O barato que sai caro

 

Por vezes me sinto vivendo no Mundo de Alice e cantarolando Somewhere over the rainbow. Talvez sejam essas constantes viagens que estejam me deixando meio a la chá de cogumelo ou no nirvana do santo daime. É sempre bom viajar, meio que se alienar dos problemas locais, dos noticiários a nivel nacional. Quando viajo sequer chego perto do computador, da televisão, do periodico diário ou semanal. Mas quando retorno…

tragadinha Agora que os governos e a sociedade estão acordando para o problema do crack no Rio de Janeiro? São Paulo a muitos anos já vinha sinalizando para um problema que não é tão somente mais deles. Sai do noticiário a cracolândia paulista e entra a cracolândia carioca. Meus amigos sociológos talvez me expliquem essa mudança preferencial da midia.

Todos os dias quando vou para o centro da cidade passo  diante de uma certa comunidade e, independente do horário que pegue o ônibus, pois o meu curso me disponibiliza essa flexibilidade em horários,  vejo pessoas (crianças, homens, mulheres e alienigenas) em verdadeiros exemplos de zumbis circulando pelas ruas ou escondidos em terrenos baldios. A cracolândia é velha conhecida dos moradores daquela região  a pelo menos uns cinco anos (segundo alguns clientes que moram dentro daquela comunidade ou nos arredores dela). E somente agora a sociedade carioca se preocupa? 

O fato de quase cadáveres ficarem a olhos vistos em plena avenida Dom Helder Câmara, uma das mais movimentada do subúrbio do Rio de Janeiro, esteja começando a agredir aos olhos dos hipócritas. Realmente é feio mesmo ver àquela gente feia, pobre, maltrapilha caminhando feito zumbis enquanto você segue em direção ao trabalho, ao estudo, ao seu lazer. Melhor cortar caminho pelas vias expressas que iluminam os olhos numa rota de fuga.  Talvez  eles estejam ali para chamar tua atenção, sinalizando a situação degradante que vivem e que o crack proporciona às suas  miseráveis vidas.

- Tia…tá me vendo aqui? Sou o lixo que resta de sua hipocrisia, da falta de trabalho, de estudos, de comida, de uma familia, de anos de ausência dos orgãos públicos”.

- E eu com isso meu filho? Se fosse pelo menos parecido com Selton Mello interpretando João Estrela, valeria a pena te dar ibope.

Calma Beth, calma! A grande maioria, quando passa por ali,  ainda está sonolenta ou cansada demais para perceber o que vinha crescendo gradativamente a olhos vistos.

Em tempos de visita do COI (Comitê Olimpico Internacional), talvez governo e sociedade consigam salvar àqueles pobres daquela situação deplorável, que caminham perdidos nas calçadas, com seus planos de ação  “a la choque elétrico”. Amanhã, durante o dia, numa manobra make up, talvez não os veja mais; quando meu ônibus passar em frente e eu ficar observando da janela àqueles pobres almas perdidas no purgatório de uma vida real. Talvez eles estejam a noite…quando tudo é silêncio, mistério, ausência, omissão, quando os gatos são pardos e o motorista do ônibus não para mais naquele ponto. Pena não terem percebido a tempo que o crack entrava pelas fronteiras e se instalava sorrateiramente, silenciosamente. Será que não perceberam?

“De acordo com dados da Secretaria Municipal de Assistência Social, o último mapeamento, de 2008, revelou que cerca de 400 crianças e adolescentes vivem nas ruas e noventa por cento delas são viciadas em crack”. Isso em 2008 - eles já sabiam. Portanto, não é um problema que cresceu de um ano para outro. O problema é que hoje está a olhos vistos, longe dos redutos da cracolândia e mais próxima do asfalto e para quem quiser ver – o que já era visto e sabido.

 

5 comentários:

Adao Braga disse...

Minha querida, é lindo ver que você não se tornou insensivel. É bom saber que você vê o mundo e sabe interpretá-lo. É mesmo assim!
Mudar certas realidades envolvem desde recursos a argumentos filosoficos.

- Temos recursos para investir?
- Será por eles decidirem usando o livre-arbitrio?
- Será por coação, intervenção do poder público, suprimindo direitos básicos garantidos em leis?

Se o Estado não faz é culpado. Se você não faz é insensivel. Egoista. Mas, quando entraram neste caminho, não pediram sua opinião, nem foram te consultar.

Muito ajuda quem não atrapalha.

Anônimo disse...

Vim rele o que escrevi, e tá escrito:

é lindo ver que você não se tornou insensivel;

Logo, contrário de ter se tornado.

Murdock disse...

É isso que dá a "sociedade" ficar achando bonitinho as pessoas ficarem bêbadas, defenderem marcha da maconha, acharem que é legal ficar chapado.

Dia desses vi um moleque de uns 19 anos (se muito) dizer que tinha fumado SETE baseados no dia, o primeiro logo que acordou. Maneiro, né? Eu que não bebo sou o chato.

Marcelo disse...

Beth, as vezes eu tenho a impressão que o Estado deixa que certas coisas acontecam para dar cabo á população - algo meio deixa morrer prá melhorar o PIB o IDH prá felicidade do Unicef ou da ONU e até do Mercossul - prá ficar bem na fita! - certa vez eu fazia pesquisa de mercado e numa destas fiz um censo de um bairro daqui do centrão: elevador lacerda, igreja da conceição, modelo market sacou? por ali, então num dos dias de pesquisa subimos por ali numa rua daquela, era umas 14hs e tivemos que pegar autorização com fulaninho prá entrar ali e bem lá no final na area restrita...havia varios homens encapuzados e/ou mascarados e com metralhadoras e escopetas ....tremi pacas...mas do outro lado, do lado de lá o mar é tão lindo...o que acontece por aqui é que as cidades são lindas...o outro lado deslumbra enquanto do outro lado o narcótico alivia a dor de não puder passar para o outro lado que é por onde "do caminho é que se ver a areia melhor prá deitar...uma cerveja antes do almoço é muito bom prá ficar pensando melhor" Chico Science há 15 anos, ou mais, atrás tambem já alertava para estes perigos no cd " Da Lama ao Caos do Caos á Lama"

bjs

Adao Braga disse...

Enviei dois e-mail para voce e ambos voltaram dizendo que o e-mail não existe. Me envia outro e-mail além do que tenho...

Viu ai o rapaz até concorda com o doido aqui... viu o que ele escreveu! Vou repetir:

"as vezes eu tenho a impressão que o Estado deixa que certas coisas acontecam para dar cabo á população - algo meio deixa morrer prá melhorar o PIB o IDH prá felicidade do Unicef ou da ONU e até do Mercossul - prá ficar bem na fita!"he he he