segunda-feira, 20 de abril de 2009

Eles dançam. E eu me encanto.

 

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Em minha passagem pelo Nordeste, nas terras de painho e mainha,  pude reencontrar lugares outrora pisados. Assim como também conheci lugares que me encantaram. Um desses lugares é Caruaru/PE.

Na estrada já podia visualizar o mandacaru florido, o senhor que parecia estar vestido para a missa e seu chapéu panamá, as feiras repletas de sabores, os vendedores de pitomba na beira da estrada. Pitomba. Recordei-me de minha infância pendurada em árvores de pitomba.  Comprei cachos e mais cachos de pitomba. Apresentei ao grupo a pitomba, o umbu, a mangaba, a azeitona. Azeitona? É como eles chamam o jamelão. E a van parecia um carrinho de supermercado a caminho de Caruaru – A Princezinha do Agreste.

Subindo a Serra das Russas, o motorista nos sinalizava para um momento inesquecivel e que nos deixaria encantados. Máquinas e filmadoras a postos aguardando esse momento único aos olhos. “Pronto. Um túnel. O nosso túnel”. Tanta expectativa para um túnel? Antes que a decepção viesse, de imediato expliquei para o grupo que diferentemente de nós, moradores de grandes metrópoles, onde os túneis servem como rota de fuga ou aproximação entre os bairros, para eles é uma grande novidade. E que belo túnel. O mais belo dos túneis. Belo aos olhos daquele pernambucano, belo aos nossos olhos. Turista tem que ser assim, um ser encantado com as velhas e rotineiras novidades.

Caruaru estava logo a frente e da estrada podíamos observar o quão grande e intensa é Caruaru. O burburinho do centro, dos shoppings, as igrejas de um século passado. E a feira? A Feira de Caruaru era a grande expectativa. Um grande complexo turistico onde de tudo se compra. “De um lado, as frutas, as comidas, o shopping de carnes. Do outro lado, as barracas de roupas, os penduricalhos. Mais adiante, a feira de artesanato, as bandas de pifanos, os artistas locais, a obra de Mestre Vitalino sendo perpetuada, os odes à Luiz Gonzaga.

E foi  no pátio da Feira de Artesanato que deu inicio todo meu encantamento por àquele povo não acostumado as lágrimas.

Enquanto aguardava o grupo com suas compras artesanais, fiquei por algum tempo filmando, fotografando, observando os transeuntes que passavam pelo pátio da feira de artesanato. E ao observá-los constatei: Eles dançam. Eles estão dançando. De passagem, eles param para dançar.

DSC09969Bater de palmas, danças, sapateados eram vindos de qualquer um que adentrava ao pátio da feira de artesanato. De repente as pessoas dançavam. Que felicidade era aquela? Que alegria contagiante era aquela que fazia turistas e locais dançarem? Parecia que uma simples canção era motivo de comemorar a vida. Do palco vinham canções que eternizaram Luis Gonzaga ou homenageavam o Centenário de Mestre Vitalino. E eles dançavam, aplaudiam, cantavam junto com os artistas, saiam pelas ruas pulando. Eles pulavam no meio das ruas.

Que lugar era aquele? Não havia mar, nem água cristalina,  peixinhos coloridos, gente bonita ou extremamente elegante. Por que estar naquele lugar fazia as pessoas, naquele momento, felizes?

Seriam os meus olhos? Estaria eu contaminada por algo surreal a la chá de cogumelo, ou puro efeito da cachaça de caju?  Não. A paixão por sua terra, pela sua arte, pelo seu povo – esse era o segredo. E essa talvez seja a resposta. A resposta que encontrei ao visitar o museu do forró, do barro. Ao conhecer a história de Mestre Vitalino, de Luiz Gonzaga, de Ana das Carrancas tão bem explicada de forma emocionada pelo guia do museu.  O segredo está na terra, naquele povo que não tem tempo para chorar.

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E como dizia Mestre Vitalino: "Na minha terra, as mãos produzem comida, a cabeça só produz confusão"

Caruaru, merece o título de Princezinha do Agreste. Pena que não tirei tantas fotos e ainda não tive tempo de editar meu video de Caruaru e colocá-lo no no meu canal Youtube. Querem saber? Tamanho encantamento guardarei no coração com àquela vontade louca de retornar em breve à terra de Mestre Vitalino e tão bem cantada por Luiz Gonzaga!

Como diz o final do video abaixo: “…Se você não gosta do meu canto, vá s´embora seu calango. Vá viver no seu buraco.”

 

Feira de Caruaru,
Faz gosto a gente vê.
De tudo que há no mundo,
Nela tem pra vendê,
Na feira de Caruaru.

Tem massa de mandioca,
Batata assada, tem ovo cru,
Banana, laranja, manga,
Batata, doce, queijo e caju,
Cenoura, jabuticaba,
Guiné, galinha, pato e peru,
Tem bode, carneiro, porco,
Se duvidá... inté cururu.

Tem cesto, balaio, corda,
Tamanco, gréia, tem cuêi-tatu,
Tem fumo, tem tabaqueiro,
Feito de chifre de boi zebu,
Caneco acuvitêro,
Penêra boa e mé de uruçú,
Tem carça de arvorada,
Que é pra matuto não andá nú.


Tem rêde, tem balieira,
Mode minino caçá nambu,
Maxixe, cebola verde,
Tomate, cuento, couve e chuchu,
Armoço feito nas cordas,
Pirão mixido que nem angu,
Mubia de tamburête,
Feita do tronco do mulungú.


Tem louiça, tem ferro véio,
Sorvete de raspa que faz jaú,
Gelada, cardo de cana,
Fruta de paima e mandacaru.
Bunecos de Vitalino,
Que são cunhecidos inté no Sul,
De tudo que há no mundo,
Tem na Feira de Caruaru.

5 comentários:

Adao Braga disse...

Vou te indicar o Blog:

http://culturanordestina.blogspot.com/

Caruaru, eu passei lá em outubro de 2008. Apaixonante. Quando passei, era época de festa. Aliás, lá parece ser sempre época de festa. Porém, a situção feminina na região é coisa triste. Ainda que a modernidade esteja chegando nalgumas bandas.

Um cheiro carinhoso!

Juℓi Ribeiro disse...

Querida Beth:

Caruaru é sempre uma festa.
Mas Caruaru com certeza ficou
mais bela com a sua visita.
Caruaru te encantou?
Você é que encanta a todos
os seus amigos com sua simpatia
e bom humor contagiante.

O nosso querido amigo Adão
também passou por aqui.
Um abraço suadoso nele
e outro em você.
Beijo.

Murdock disse...

Eu tenho vontade de conhecer Penedo e Piranhas em Alagoas, terra dos meus avós, à beira do São Francisco.

Dani disse...

Conheço Campina Grande e sempre fui louca para conhecer Caruaru. Ainda existe o trem do forró?

Marcelo disse...

Hum Pernambuco é muito muito lindo e vital...já fui por lá varias vezes, neste final de semana conversei bastante com uma pessoa de Arco Verde mmmjá morei em petrolandia por uns meses onde a música de Sá e Guarabira era explicada melhor do que no "nuticiário"...conheço bastante Recife e Olinda bem mais do que os pernambucanos....não pude ir á caruarú nem ao Brennand...volto já...that's all folks! pernalonga volta já!

bjs