quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Quebrou-se o Sigilo...

"Há três espécies de cérebros: uns entendem por si próprios; os outros discernem o que os primeiros entendem; e os terceiros não entendem nem por si próprios nem pelos outros; os primeiros são excelentíssimos; os segundos excelentes; e os terceiros totalmente inúteis." – Maquiavel

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Herdamos, sim, uma cultura de mercadores, traficantes de escravos e clandestinos que aportavam pelos trópicos, mas herdamos também Os Lusíadas de Camões, os poemas de Fernando Pessoa, a visão de mundo, a coragem e a capacidade de superação dos desafios dos que fundaram este país. Nós, brasileiros, não fizemos a lição de casa. Acomodamo-nos às idéias mesquinhas daqueles que imaginam que, quando se lesa o Estado, não se está tirando de ninguém. Nós somos o Estado. Não há Estado sem nação e toda nação tem de cuidar do que lhe pertence. Sejam as estatais, os programas sociais ou o orelhão da esquina. Precisamos mais e mais analisar quais são os valores que realmente valem a pena. Há que ser retirada da mente dos jovens a ilusão de que o dinheiro, a ostentação, os bens materiais e o status são os verdadeiros valores da sociedade. Para conquistá-los o homem não mede conseqüências.

Os verdadeiros valores morais e éticos parecem ter sido esquecidos. Nenhum cidadão consciente que imagina viver numa sociedade desenvolvida, igualitária e justa será feliz focado apenas nas coisas materiais. É hora de valorizar os atributos morais mais elevados. A honestidade, a ética, o respeito ao outro, a polidez, a humildade, a lealdade, a paciência, a harmonia e etc. A corrupção, o nepotismo e o desvio de dinheiro público fazem parte de nossa história há mais de 500 anos. A diferença é que hoje a imprensa, os políticos e os juristas de boa fé crescem nos debates públicos e na preferência do eleitor. Nunca houve tanta participação da sociedade organizada como na história recente do país.

..." (fonte: Associação dos Docentes da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro)


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Foi noticiado a suspensão de dois concursos públicos e, acredito, que outros também o serão. O NCE-Nucleo de Computação Eletrônica da Universidade do Rio de Janeiro está sob suspeita de quebra de sigilo de um disputadíssimo concurso público – o da Polícia Rodoviária Federal. Por tabela, num procedimento impar e inesperado, o Corregedor-Geral de Justiça, o desembargador Luiz Zveiter, decidiu, por enquanto, suspender o concurso público que seria realizado no próximo dia 16 de dezembro e que seria organizado pelo mesmo órgão federal sob suspeita, até que a Polícia Federal chegue a uma conclusão das investigações.

Dias antes tivemos a notícia que a OAB-SP também havia suspendido sua prova pelos mesmos motivos – quebra de sigilo.

Meu irmão foi para Brasília para realizar o concurso da PRF. Metade dos meus amigos estavam se preparando, para o concurso do TJ disputando algumas poucas vagas com um total de 70 mil candidatos.

Quem já se preparou, com afinco, para um concurso público ou para um exame de OAB, sabe o quanto é desgastante a dedicação aos estudos. São dias e dias seguidos dentro de salas de aula, grupos de estudos, turmas de exercício, sem finais-de-semana, feriado ou férias. Muitos chegam a pedir demissão de seus empregos, outros esquecem que possuem família e amigos só para poderem estudar. E muitas vezes, não se atinge o objetivo pretendido: entrar para o quadro de funcionários daquela instituição ou pegar a pretendida e sonhada carteira da OAB.

Recentemente conversei com amigos sobre essa cultura do concurso público, coisa que existe de um tempo para cá. Pasmem! Mas sou da época em que torcíamos o nariz para essa busca de estabilidade – o mundo da iniciativa privada e sua selvageria era o que nos seduzia. Hoje, numa turma de Direito, muitos professores no primeiro dia de aula logo perguntam quem ali vai fazer concurso público. Entre aspas, já sabemos quais as instituições, desde os primeiros anos de academia, que nos preparam para o concurso ou para a advocacia.

Mas o papel do candidato/estudante é esse: estudar, se preparar, estar disposto a sofrer anulações e perder noites e noites em cima de livros. Faz parte do jogo. Mas o que dizer de instituições conceituadas na organização de concursos estarem sob suspeita de vazamento de informações? O que dizer para esses candidatos que se prepararam e estão emocionalmente desgastados?

Ainda como estagiária da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, assisti a prova oral para defensores. E podem apostar, mesmo chegando à etapa final de um concurso o nervosismo impera. Vi os nobres doutores suando frio, nervosos, chorando, gaguejando diante de uma banca nem sempre simpática. É extremamente desgastante ainda ter dúvidas em relação ao seu saber.

Alguns dos meus amigos, diante da suspensão dos concursos disseram que vão se preparar melhor. Meu irmão pegou o avião de volta e ficou pensando se ajuíza uma ação ou não para ser ressarcido das despesas e se arrisca no recebimento dos velhos e bons precatórios. Outros disseram: Chega...quero liberdade! Vou surtar no Zapatta em Búzios e beber muito...chega de estudar!

E no meio de tanta quebra de sigilo disso e daquilo, me pergunto: Se a confecção dessas provas nas gráficas são tão bem guardadas e vigiadas, de onde vêm essa quebra de sigilo, esse vazamento de informações? Seria das próprias bancas examinadoras? Não seria de bom tom o integrante da banca não exercer outras funções enquanto o concurso estivesse em andamento? Quebra-se o sigilo e com ela a confiabilidade? Mas o que vem a ser sigilo? E qual o seu papel dentro da ética, moral e bons costumes?

E mais uma vez: bate-se palma para maluco dançar! Mas quem é o maluco? O cara que quebra o sigilo de um concurso, de um exame de OAB? Ou os pobres dos estudantes?

5 comentários:

Anônimo disse...

Ah! Eu sou muito desconfiado de muitos concursos. Imagine que no melhor concurso que participei eles aceitaram minha inscrição, deixaram-me fazer as provas, e quando fui receber o resultado, ele me disseram:

- O senhor foi desclassificado na seleção. O senhor não justificou o voto 3 vezes.

Adao Braga

DM disse...

De fato um absurdo tudo quanto relatado aqui, se fosse seu irmão, ajuizaria sim uma ação contra a tal instituição pedindo ressarcimento de despesas, e depois iria sim beber e muiiiito em Búzios! Não dá mais para ficarmos inertes diante de tantas aberrações e desrespeito com gente dedidada que estuda que quer tornar esse País uma coisa melhor !

Lindo post, que leva a reflexão, Beth! Mas fiquei injuriada e revoltada HUMPT!!!

Beijos querida causídica, adorei a citação de Maquiavel !!!

Anônimo disse...

Olha, passei aqui feito um cometa, só para ouvir a musica em auto-player, confesso que inicialmente ... Pensei ela vai falar Meu Nome é Eneas ...mas me enganei ...

abraços

OAlbergueiro disse...

todos somos malucos por nos deixarmos levar por este rumo, por este mundo sem se quer parar para refletir e ver o quão anestesiados estamos....mas como diria a voz da razão quem vai alimentar meus filhos, comprar minhas roupas, e todas as outras coisas que não necessitamos mas que também se tornaram prioridades. por isso qualquer coisa por uma estabilidade...
saudações

Anônimo disse...

Você soube? Desta vez quem nasceu para ensinar, dar educação é que saiu prejuizo. O concurso para professores do RJ foi cancelado. E advinhe: QUEBRA DE SIGILO.