terça-feira, 4 de dezembro de 2007

O Brasil samba que dá...

A Atual Vergonha de Ser Brasileiro
(Affonso Romano de Sant´Anna)


Que vergonha, meu Deus! ser brasileiro
e estar crucificado num cruzeiro
erguido num monte de corrupção.
Antes nos matavam de porrada e choque
nas celas da subversão. Agora
nos matam de vergonha e fome
exibindo estatísticas na mão.

Estão zombando de mim. Não acredito.
Debocham a viva voz e por escrito
É abrir jornal, lá vem desgosto.
Cada notícia é um vídeo-tapa no rosto.
Cada vez é mais difícil ser brasileiro.
Cada vez é mais difícil ser cavalo
desse Exu perverso
nesse desgoverno terreiro.

Nunca vi tamanho abuso.
Estou confuso, obtuso,
com a razão em parafuso:
a honestidade saiu de moda
a honra caiu de uso.
De hora em hora a coisa piora:
arruinado o passado,
comprometido o presente,
vai-se o futuro à penhora.

Valei-me Santo Cabral
nessa avessa calmaria
em forma de recessão
e na tempestade da fome
ensinai-me a navegação.
Este é o país do diz e do desdiz,
onde o dito é desmentido
no mesmo instante em que é dito.
Não há lingüista e erudito
que apure o sentido inscrito
nesse discurso invertido.

Aqui o discurso se trunca:
o sim é não. O não, talvez.
O talvez, nunca.
Eis o sinal dos tempos
este o país produtor
que tanto mais produz
tanto mais é devedor.
Um país exportador
que quando mais exporta
mais importante se torna
como país mau pagador.

E, no entanto, há quem julgue
que somos um bloco alegre
do ‘‘Comigo Ninguém Pode’’
quando somos um país de cornos mansos
cuja história vai dar bode.
Dar bode, já que nunca deu bolo,
tão prometido pros pobres
em meio a festas e alarde
onde quem partiu, repartiu
ficou com a maior parte
deixando pobre o Brasil.

Eis uma situação
totalmente pervertida
-- uma nação que é rica
consegue ficar falida,
o ouro brota em nosso peito,
mas mendigamos com a mão,
uma nação encarcerada
que doa a chave ao carcereiro
para ficar na prisão.

Cada povo tem o governo que merece?
Ou cada povo tem os ladrões a que enriquece?
Cada povo tem os ricos que o enobrecem?
Ou cada povo tem os pulhas que o empobrecem?
O fato é que cada vez mais
mais se entristece esse povo num rosário
de contas e promessas num sobe e desce de prantos e preces.

C’est n’est pas um pays sérieux! já dizia o general.
O que somos afinal?
Um país-pererê? folclórico? tropical?
misturando morte e carnaval?
Um povo de degradados?
Filhos de degredados largados no litoral?
Um povo-macunaíma sem caráter-nacional?

Por que só nos contos de fada
os pobres fracos vencem os ricos nobres?
Por que os ricos dos países pobres
são pobres perto dos ricos
dos países ricos? Por que
os pobres ricos dos países pobres
não se aliam aos pobres dos países pobres
para enfrentar os ricos dos países ricos,
cada vez mais ricos, mesmo
quando investem nos países pobres?

Espelho, espelho meu!
há um país mais perdido que o meu?
Espelho, espelho meu!
há um governo mais omisso que o meu?
Espelho, espelho meu!
há um povo mais passivo que o meu?
E o espelho respondeu
algo que se perdeu
entre o inferno que padeço
e o desencanto do céu


Esse texto de Affonso Romano de Sant´Anna tem mais de 23 anos. Mas foi publicado no Jornal O Globo à época em que Fernando Henrique Cardoso estava apontando nas pesquisas como o brasileiro que mais envergonha o pais. A pergunta é: Há algo mais atual? Sempre atual nesses mais de 20 anos? Ou o problema não é de agora e sim embrionário?


Cacei esse texto na net após ler um texto do Adão e um comentário do Murdock dentro do mesmo texto do nobre Adão. E comungo com o Murdock, pois é tão fácil culpar um governo quando o povo também usufrui de seus desmandos.


E sempre penso: Ahhhhhhh....se o povo soubesse a força que tem sua CRFB-Constituição da Republica Federativa do Brasil.


Dia desses, estudando com um amigo, que está com gana de saber após uns bons anos longe da escola, disse à ele: todo povo, desde o ensino básico, deveria saber a importância de sua constituição, pelo menos daqueles artigos que são cláusulas pétreas. Quer estudar Direito para concurso? Então quero que domines todo o artigo 5º. Quero que leia, releia, resuma, faça anotações, pegue a doutrina e conheça os principios que o rege.


Pronto! criei um monstro, que agora ousa a me desafiar no domínio do estudo constitucional. Mas quer saber? Isso é bom, pois um povo que estuda, pensa! E se pensa, questiona! E se pára para questionar...então FUDEU!


Mas estamos em épocas de festas; natal e reveillon...logo depois chegam às preocupações próprias de janeiro que logo serão esquecidas no carnaval.

4 comentários:

O Profeta disse...

Esta é uma preciosa vontade minha
Vinda do fundo do coração
Que tenhas mil venturas este dia
E nunca percas a paixão

Boa semana


Mágico beijo

Beth disse...

Profeta meu doce!!
Te desejo tudo de muito lindo essa semana e nas vindouras. Bom sempre te ver por aqui e logo nos tópicos onde estou mais sarcastica em percepções. Tu és um dos meu equilibrio de ser.

Bjs

Susana disse...

Eu no poema o que mais gostei foi esta parte: Espelho, espelho meu!
há um país mais perdido que o meu?
Espelho, espelho meu!
há um governo mais omisso que o meu?
Espelho, espelho meu!
há um povo mais passivo que o meu?
E o espelho respondeu
algo que se perdeu
entre o inferno que padeço
e o desencanto do céu.
beijinhos

Ricardo Rayol disse...

se todos soubessem que a montoeira de leis que existem deveriam ser revisadas para tornar a coisa mais justa seroia otimo.