quarta-feira, 6 de junho de 2007

Ponto de Partida

Espero antes de terminar esse texto, já tenha pensando no título e na ilustração que escolherei para ilustrá-los. Sim, sempre gostei de fotos, retratos, quadros, telas, gosto de arte que fala por si, por todos, não necessita da escrita para dizer a que veio.

Que madrugada infernal, como é dificil retornar. Como assim? Retornar? É, o caminho de volta sempre é complicado, seja para o filho pródigo biblíco, seja para qualquer um. Retornar sempre é complicado; voltar ao ponto de partida, de onde tudo começou. As vezes precisamos voltar, retomar nossas raizes, talvez, para consertar algo de errado, para suprir lacunas, para recomeçar, ou simplesmente para tomar um banho, jantar e dormir.

Sou guia e agente de turismo, mas não exerço mais, me enveredei pelas teias do Direito e é nele que quero ad eternum permanecer. Talvez, na minha monografia, consiga colocar em tese minhas duas paixões: o turismo e o Direito.No entanto, minha doce mãezinha ainda o é, uma excelente guia de turismo que exerce sua função já uns vinte anos. Mas a maluquete da mamãe não é uma guia convencional, é guia de compras. Daquelas que leva seus clientes lojistas e sacoleiros para cidades enlouquecidas pelo vil metal, onde o produto final é destinado às consumidoras contumazes, assim como euzinha. Acessórios? Belo Horizonte (tem uma feirinha ótima dia de domingo). Jeans, roupa social, muambinhas? São Paulo (O Brás e o Bom Retiro é uma perdição). Sapatos? Franca (é tudo de muito bom). Lã, linha, roupitas de frio (Monte Sião e Jacutinga). Lingerie? (Friburgo). Roupas de cama e banho? Ibitinga (é tudo o que há). Nossa! Pelo menos na região sudeste conheço tudos os segredos das consumidoras enlouquecidas.

Ontem, eram duas excursões, uma voltando e outra indo. E fui lá ajudar nesse troca-troca de ônibus, passageiros, caixas, stress, puro stress. Precisava deixar o pessoal que estava vindo de São Paulo no seu ponto de partida, eles retornariam ao seu ponto de partida repletos, desta vez, com seus sonhos de um futuro mais promissor, afinal, o amanhã seria de novos preços, vendas e compradores de suas mercadorias. Mas como é dificil retornar quando estamos no Rio de Janeiro. Depois de muito tempo e com todas as afirmativas de que são acontecimentos próprios de uma cidade grande, nada me tira da cabeça que o Rio está passando por uma série crise de segurança pública não romantizada por soluções rápidas.

- Me deixa logo ali? Vou pegar um táxi.
passageiro descendo e um som seco ecoa pelo ar, perto dos nossos ouvidos, sombras corriam por uma passarela atras de outras sombras e entre elas, o brilho da morte. Estávamos na Maré.
- Vou ficar perto do ponto de táxi.
meninos maltrapilhos, sujos, drogados, descalços. Meu Deus! você tem o tamanho do meu sobrinho menino - pensei! Eles pareciam advinhar meu pensamento, através do meu olhar. - Tia, você é legal, sorri bonito, vou pertubar àquela dona que tá pegando o táxi. Estávamos na Rodoviária
- Ô motorista! me deixa logo ali, antes da esquina. Não fica muito na esquina que quando pipoca as balas atravessam a pista. Menina bonita, não sai do ônibus que aqui é nossa área.
vidas acostumadas ao dia-a-dia de balas que não são doce, balas que ceivam outras vidas. E a menina bonita ficou escorrengando pela cadeira e olhando para os lados e rezando para que tudo logo se findasse. Estávamos no Jacarezinho.
- Preciso chegar cedo, quando a noite cai temos hora para entrar e tenho que deixar a mercadoria na loja, se duvidar, vou dormir na loja.
o seu retorno estaria no dia seguinte. Ela não se permitia mais olhar a noite, o céu estrelado da noite fria, a lua dos amantes. A noite era sua inimiga.

Obrigada Deus! Voltei ao meu ponto de partida e cada vez mais reflexiva. Por quantas e quantas vezes entrei e sai de lugares que hoje não são mais permitidos sequer chegar perto. Jacarezinho, Maré, Cruzeiro, Grota, Alemão, Urubu, Rocinha, Dona Martha, Nova Brasilia, Nova Holanda...me perdoem, mas não ouso mais como ousava em me divertir nas seus becos e vielas, em entregar passageiros de porta em porta. Não dá mais para compartilhar da calma de teus moradores, de ir nas feijoadas e churrascos oferecidos por amigos que moram em ti.

Aprendi durante anos a dividir com esses passageiros, em especial a galera de compras, o respeito por suas vidas, por suas lutas, por seus carrinhos, por seus fardos sempre pesados. Chegar em casa, para eles, era apenas o inicio de recontar e dar novos preços aos seus futuros sonhos. Hoje, eles torcem para tudo esteja em paz antes que adentrem no seu mundo especial, possam abrir suas lojas no dia seguinte, ou montar suas barracas nas feiras.

Uma excursão se findou, a outra seguiu, amanhã talvez tenha mais...e semana que vem recomeça tudo novamente. Eu sempre digo para eles: Boa Viagem, Boas Compras, Abençoadas Vendas. E que Deus os protejam.

O título? Fluiu naturalmente. Mas não escolhi a ilustração do meu texto...deixa prá lá...isso não é tão importante.

Obrigada Deus por cada retorno ao meu lar. Quisera que todos retornassem.



.......... vou ficar fora do ar uns dias, vou para minha São Tomé das Letras/MG procurar o meu disco voador. Ops, meu amigo Pedro me disse que ET´s são verdes e que se aparecer algum ET vermelho, então, é um maluco gatinho querendo se dar bem. Ahhhhhhh...tá tranquilo. Eu só quero retornar ao meu ponto de partida, carregada de imãs de geladeira, pedras e reenergizada.

Bom Feriado !!!! Carpe Diem!!!