- Mamãe, eu sou gay.
Não estou falando das t-shirts, de mangas curtas, justas ao corpo e que são usadas por alguns metrossexuais, yuppies, pelos mauricinhos, por alguns marombados, enfim, não estou falando de moda, não me interessa moda. Estou realmente falando de homossexualidade.
Estava folheando uma dessas mil revistas que tenho no meu quarto, agora assumidamente, um quarto de estudos bagunçado e com post-it´s espalhados, onde, em uma das colunas, uma mãe pede ajuda ao meu famoso analista dominical, pelo fato dela não aceitar a condição homossexual de seu filho. Tem um casamento perfeito, outros filhos criados, casados, netos, mas seu filho mais novo, seu tão amado temporão, é gay. E a vergonha se instalou no seu coração de mãe que sequer, consegue olhar mais com carinho o seu “novo filho”.
Pensei cá com meus botões falantes, que talvez ela preferisse que seu filho fosse um homem, com H. Homem de várias mulheres, homem que não ama, homem que freqüenta prostíbulos, homem que trai, que leva Aids e DST´s para dentro de casa, homem que faz sexo grupal, homem que fotografa a bunda de sua mulher e que mostra aos amigos, homem que fala de sua vida intima nos bares da vida...mas ser Gay...jamais! Ser o homem com H, não é ser gay. Não interessa a honestidade de sentimentos, a índole, a moral, a fidelidade, a sinceridade, a posição e atitudes perante a vida. O que vale, para essa mãe, é a condição sexual.
Quem sabe, ela esteja apenas preocupada com a lascividade? Mas lascivia independe de sexo, de estado civil, de religião, de classe social. Mãe, não há nada em termos sexuais que um gay faça, entre quatro paredes, que um casal hetero também não o faça e até pior, haja vista, alguns detalhes a mais. Ambas as opções podem, dependendo dos bons estágios no pilates e yoga, exercitarem na boa, o Kama Sutra; salvo pequenos detalhes de ordem material, mas nada que impossibilite quando se quer, quando se ama, e quando se tem criatividade. Oh! Talvez seja doença? Mas, ficarias zangada comigo se te dissesse que teu filho não é doente? Homossexualidade não é doença, é uma escolha, ou talvez já tenha nascido com a predisposição devido alguma combinação de espermatozóides igualmente gays do papai dele, do seu marido, que tenham dito: desta vez o mundo é meu. Pôxa mãe, eu conheço tanta gente, homens e mulheres, que não chegariam aos pés gays do teu filho...e na pior de minha auto-flagelação umbilical, diante de meu espelho, nem eu mesma ouso em chegar.
Acabei por descobrir, fingindo de conta que não advinharia a posição final do analista, que a mãe do meu folhetim se preocupa apenas com seus frustrados sonhos, já que, talvez, pelas nossas leis e moral cristã, ela não veja seu filho subir ao altar, ou sendo pai biológico. Mas penso que seus sonhos de mãe, não deveriam ser superiores ao desejo de felicidade do seu filho. Para o filho haverá salvação, mas para a mãe, jamais. Quem sabe o união dele, com o cara que ele ama, não será mais honesta do que o seus trinta e poucos anos de união “estável” e com comunhão total de alguma coisa? Quem sabe?
Vamos respeitar a mãe do meu folhetim, afinal, é outra geração. Mas mãe, apelarei ao teu coração de mulher, afinal, seu lindo filho não sofrerá mais do que qualquer outro ser humano sofre, quando se trata de amor. Ele não lutará menos ou mais pela sua felicidade do que qualquer um de nós lutaria, a cada nascer de um novo dia. Ele não será menos rejeitado socialmente, do que tantos outros que são rejeitados diariamente, até mesmo por nossos olhos, quando estão nos sinais vendendo bala. Ele precisa tanto de você, como todo filho precisa de sua mãe.
Essa crônica se baseia em fatos reais dominicais e é uma homenagem aos meus amigos gays e suas mães maravilhosas.
Um comentário:
você me fez pensar se eu teria vergonha de ter um filho gay. Com certeza, passado o susto inicial, eu estaria do lado dele, com certeza, não me permito a ter certas dúvidas. Espero que independente da opção sexual dele, ele tenha a dignidade no coração e em suas convicções. Eu só quero isso dele, nada mais além disso. Mas vejo-o crescer e observo o quanto é gentil e benevolente é àqueles que estão próximos e com estranhos. E fico muito orgulhoso. O resto é por conta dele. Com certeza. estaria sempre ao lado dele. Gay ou não ele tem a indole do bem e isso para mim é o que importa. Tenho pena dessa mãe que você relatou na crônica.
Mudando de assunto
Você chegou bem? Correu tudo bem durante a viagem?
Grande beijo
Marcelo
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