Querer (Pablo Neruda)
Não te quero senão porque te quero
E de querer-te a não querer-te chego
E de esperar-te quando não te espero
Passa meu coração do frio ao fogo.
Te quero só porque a ti te quero,
Te odeio sem fim, e odiando-te rogo,
E a medida de meu amor viageiro
É não ver-te e amar-te como um cego.
Talvez consumirá a luz de janeiro
Seu raio cruel, meu coração inteiro,
Roubando-me a chave do sossego.
Nesta história só eu morro
E morrerei de amor porque te quero,
Porque te quero, amor, a sangue e a fogo.
Por alguns instantes nada o que vinha dele era dedicado à ela. Nem os gestos, os sorrisos, os olhares furtivos, os elogios rasgados; sequer foi convidada para se juntar a roda de amigos. E ela, no meio daquela multidão, buscava o que ele não queria lhe dar – atenção!
Não entendo mendicância de atenção.
Gritos inaudíveis de desespero ecoaram dentro dela ao se ver ameaçada por lembranças perenes de clicks digitais. Deletando a fotografia alheia seria uma forma de esquecer que não foi lhe dado o prazer de dividir o melhor momento dele. Ele, espontâneamente feliz, fugia do seu controle de Lolita decadente. A artimanha, própria de meninas inseguras que ainda não aprenderam a ser mulher, fatalmente seria descoberta; afinal, foi apenas um meio encontrado por ela de esquecer que os gestos, os sorriso, os olhares furtivos, os elogios rasgados que não lhe foram dedicados estariam perpetuados no sorriso de outra. A outra? Essa sim, era a dona da festa – alheia aos dilemas existencias de quem a rodeava, brindava a vida.
Quando, enfim, essas tolas meninas vão descobrir que o melhor do jogo da sedução está em se deixar seduzir? E que a insegurança é própria de quem não se sente plenamente desejada por olhos alheios e por seu próprio espelho? E que amor construido a sangue e fogo é parte da vida que se esvai.
Agora é tarde para amadurecer e se tornar Alfa…
2 comentários:
Se aprende mais na dor e na desilusão do que no amor e nas alegrias.
Se já é tarde... então é! Foi bom enquanto durou? Foi eterno?
Que seja apenas tal qual a música:
- As lembranças de amor... não passam
he he he he he
Bom fim de semana. Hoje é dia de ir ao médico... estou ansioso para saber se vou morrer logo!
Adoro Neruda.
"mendicância de atenção", ficou muito claro e confirma o que penso a respeito.
Você voltou em grande estilo!
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