domingo, 7 de fevereiro de 2010

Eu, Maria e os sebos

 

Maria é uma argentina que me encontrou na net, no meu blog de turismo, e contratou-me para um city no Rio. Exigência de Maria: Nada de pontos turisticos convencionais, cheios de turistas assim como eu. Quero conhecer onde tudo começou, o centro do Rio de Janeiro, Santa Teresa e visitar sebos. Não estranhe meu pedido, mas os livros na Argentina são caros e sou apaixonada por literatura brasileira.

Sebos? 

Maria, se não fosse trabalho com certeza nem te cobraria por tal serviço. Haviam anos que não entrava nos sebos da Avenida Passos, Regente Feijó, Alfandega, Carioca que, passar horas ao teu lado folheando as paginas amareladas e empoeiradas de alguma edição de um clássico qualquer, me reportaram aos tempos de pesquisas escolares em José de Alencar, Machado de Assis, Eça de Queiroz…e acabei também procurando aquelas edições outrora perdidas ou roubadas de minha estante. Se, não estivesse a trabalho, com certeza horas seriam dedicadas à novas aquisições.

O marido morreu havia dez anos. A esposa morreu recentemente. Os filhos, que não se prendem as tradições e não dispõe mais de tempo ou do mesmo zelo paternal, resolvem vender toda a coleção do pai para um dos sebos visitados. “Menina, aqui tem obras raras e que valem muito” – me disse o simpatissimo dono de um dos sebos enquanto catalogava as obras recem-adquiridas. “Triste do pai que espera além do que seu filho pode oferecer” – complementou ao ficar olhando o tamanho da coleção.

É claro que o lado cultural, histórico e arquitetônico não passaram desapercebidos aos olhos curiosos de Maria enquanto eu disparava  informações e curiosidades da cidade; nem mesmo o mal humor do famoso artesão das escadarias - ao tirar fotos com “green go” que só queriam tirar apenas fotos -;  ou o cheiro do back enquanto andava por ladeiras históricas, também não passaram desapercebido as percepções de Maria.

O bloco vai passar e a clausura  continua silenciosa ao mundo.  Passado e presente nas velhas páginas amareladas, nas ruas, nos casarios, no velho prédio que ainda guarda na memória de elementos art nouveau, as pernas da vedete em tempos aureos do Teatro de Revista.

Para Maria presentei um amarelado Alienista, de Machado de Assis. Afinal, a questão é científica – em nossa sanidade ou loucura.

2 comentários:

Juℓi Ribeiro disse...

Beth:

FELIZ ANIVERSÁRIO!
Que Deus te abençoe e ilumine sempre.

Adorei seu texto.
Fiquei sonhando e imaginando
as ruas, as pessoas e os "livros"
dos Sebos.
E a sua apresentação a Maria foi perfeita.
Fechou sua visita com chave de ouro.

Deixo para você um dos poemas mais bonitos
de Machado de Assis.
Este poema define realmente
o que sentimos quando pensamos
em "BONS AMIGOS"

Beijo.

BONS AMIGOS

Abençoados os que possuem amigos, os que os têm sem pedir.
Porque amigo não se pede, não se compra, nem se vende.
Amigo a gente sente!

Benditos os que sofrem por amigos, os que falam com o olhar.
Porque amigo não se cala, não questiona, nem se rende.
Amigo a gente entende!

Benditos os que guardam amigos, os que entregam o ombro pra chorar.
Porque amigo sofre e chora.
Amigo não tem hora pra consolar!

Benditos sejam os amigos que acreditam na tua verdade ou te apontam a realidade.
Porque amigo é a direção.
Amigo é a base quando falta o chão!

Benditos sejam todos os amigos de raízes, verdadeiros.
Porque amigos são herdeiros da real sagacidade.
Ter amigos é a melhor cumplicidade!

Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho,
Há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas!

-Machado de Assis-

ABB disse...

Estamos em ação para a viagem de amanhã. Estamos num corre-corre que você sabe como é... por isto, repeti um texto do ano de 2008, mas, você merece maior e mais bem atendimento e atenção!