sexta-feira, 2 de março de 2007

Em tempos de BBB



Venho acompanhando, não diariamente, mas em dias chaves, o tal do Big Brother Brasil 7. Descobri que, definitivamente gosto de jogos inteligentes, de jogos humanos, gosto de analisar a conduta, o perfil, o dia seguinte de cada participante. Sinto-me um general em plena guerra, ou um grande xadrezista aguardando o xeque-mate fatal para o seu oponente. Não é a toa que estudo psicologia jurídica, uma matéria nada obrigatória na faculdade, mas instigante ao analisar a conduta da causa e consequencia da mente humana que vive na marginalidade ou beira a marginalidade.

Falei em dias chaves, mas quais seriam esses dias chaves ?

1 – o dia da escolha do líder. Onde o jogo começa a despontar;

2 – a escolha do anjo. Pronto! Tabuleiro está montado.

3 – o dia do paredão. Definitivamente, dia de final de campeonato entre Flamengo e Vasco, maracanã lotado.

Pronto ! Acabou o glamour de um jogo virtual e começa o jogo real. Sem pieguices psico explicativas, começa, assim, o jogo da vida.

O que mais me assusta nisso tudo é o comportamento da torcida televisiva e virtual. Nesse BBB 7, em particular, as agressões escritas nos perfis públicos dos integrantes, tidos como banda do mal me chamaram a atenção. Parei e li alguns dos perfis dos supostos agressores e, a imagem de uma grande maioria, é composta de pessoas normais, com vidas mais normais, vidas sem graça, ou com graça demais, intelectuais, jovens, donas de casa, profissionais bem resolvidos, mas detentores de uma grande verborragia, diria, inaudível.

O que faz essa bipolaridade de sentimentos no ser humano ? Pensei e imediatamente me lembrei de uma frase dita por uma defensora pública com a qual trabalhei. Ela disse depois que um assistido saiu de sua sala: Somos, todos, capazes de matar, poucos são capazes de estuprar. Mesmo assim, no meu papel de defensora pública, tenho que tirar as vestes dos preceitos morais pessoais e íntimos e, saber defender o homicida, ou o estuprador.

Será que todos que fazem parte de uma torcida feroz e sedenta por vingança virtual somos capazes de na vida real cometer tais atrocidades, de denegrir imagem, ameaçar, falar palavrões para defender quem não conhecemos ? Afinal, isso tudo é apenas um jogo que, ao final não nos diz respeito, não seremos o vencedor direto.

Talvez façamos parte direta dessa dança da mudança social comportamental. Como disse Bial em recente chat: onde poderíamos imaginar que um gay seria o vencedor de um programa, ou que seríamos cúmplice e torcedores de um triângulo amoroso ? - mas para todo lado positivo, há sempre o lado negativo.

As palavras da defensora pública e o comportamento vingativo do público meio que se irmanam, pois ambos defendem, a sua maneira, quem não conhece; cada um a sua maneira, jurídica ou sentimental. Mas defende-se uma idéia, defende-se valores, defende-se dignidade mesmo que seja da forma mais indigna a um ser humano. Afinal, qual o pai que não mataria para defender seu filho ? Epaaaaa ... pai é pai, mas eu não mataria para defender o gostoso do Alemão, ou o amor do Lemão pela Sirizinha, mas será que seria capaz de entrar no perfil do Alberto (àquela coisa) e detonar moralmente o cara ? Por causa de um jogo ? Mas ao final do jogo, uns sairão feridos, outros vencedores e nós idenes.

Como pessoa, odeio palavras de baixo escalão e fuzilo pessoas e mensagens e scraps que aparecem quando tais palavras ou tais atitudes fazem parte daquele ser humano que tenta entrar, ou permancer na minha vida real. Já perdi bons amigos (???) pôr tentarem me envolver nos seus jogos de intrigas morais. Mas, no jogo da torcida virtual, prefiro ficar na brincadeira do: O Alemão é campeão.

“Bethinha ..... vamos detonar o safado do Alberto. Cacete, o cara é a escória humana. Já estou na detonação geral antes de ir para o congresso”, me disse Mari agora a pouco, em uma ligação. Minha amiga, linda, dentista, muito bem casada, mãe de três filhos lindos, um marido mais maravilhoso, está na Praia do Forte, na Bahia, num resort maravilhoso, com um olho no congresso e outro no Big Brother. Ela precisa urgentemente ver o Alberto, o Airton, a Analy e a Carol fora do jogo, caso contrário, não assistirá mais televisão e nem acreditará na justiça divina. Vejam, até Deus entrou no meio do jogo.

Mas será que é só ela ? Esse sentimento de rejeição às armações, ao que achamos podre e, que se afloram num jogo do qual somos expectadores, é uma forma, às vezes, nada divertida, de dizermos não à tudo de errado que vemos diariamente, mas que só temos coragem de falar em época de BBB.


"Acredito que viver significa tomar partido. Indiferença é apatia, parasitismo, covardia. Não é vida. Por isso, abomino os indiferentes. Desprezo os indiferentes, também, porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes. Vivo, sou militante.Por isso, detesto quem não toma partido. Odeio os indiferentes." (Antonio Gramsci)


Acho que o Alemão e sua torcida, inclusive faço parte dela, somos meio adeptos da forma de pensar de Gramsci.

Nenhum comentário: