sábado, 3 de março de 2007

Cenas do Ultimo Capitulo


Tentei me recolher para poder ler os outros, mas não consegui. Alma de quem observa a vida.

Chorei muito no final da novela Páginas da Vida. E como chorei. Não chorei copiosamente por achar que a sociedade é uma grande merda em não cuidar de seus excluídos sociais. Não chorei por achar que os valores pessoais e familiares foram postos em xeque pelo olhar clínico e perspicaz e humano do autor. E muito menos chorei por achar que, desta vez, não houveram vilões punidos. Chorei. Uma lágrima escorreu timidamente de meus olhos, lubrificando minha alma.

A pauta do julgamento era a guarda de duas crianças. E foi ai que eu chorei. Mas não chorei – e enfatizo novamente – não chorei pela sentença proferida por unanimidade pela Egrégia Câmara Civil. Chorei pela humanidade na leitura da Relatora, no olhar da atriz.

Ainda me perco dentro da impotência magnâmica da palavra Tribunal de Justiça e por vezes, acho seus corredores frios, onde, o ser humano se desnuda, se expõe, na luta por seus direitos, nem tão direitos assim. A verdadeira essência do ser humano caminha pelos corredores marmorizados dos Tribunais e por ali ficam um pouco de cada um de nós, presos na frieza dos mármores.

Para quem já assistiu uma audiência, principalmente, numa das tantas Câmaras existentes, sabe que, normalmente os Excelentíssimos Senhores Desembargadores sequer olham para as partes, sequer prestam atenção nas alegações dos causídicos, por vezes, ficam folheando outras pautas, atendendo celulares, conversando entre si. Afinal, são tantos os julgamentos em pauta e a lei é para todos, sem distinção.

Talvez a atriz Eva Wilma tenha feito um laboratório numa sessão da Câmara Cível, tenha se proposto a ser expectadora de um julgamento qualquer. Talvez a atriz tenha percebido, com seu olhar experiente, cultivado pelos anos, por tantos outros personagens incorporados que, ali, dentro daquele recinto, falta sensibilidade e humanidade. E resolveu ser uma desembargadora humana na leitura de seu relatório. E isso me emocionou deveras, afinal, são vidas em jogo, famílias que se formam, outras que se destroem. E por mais que a letra não seja romantizada, por mais que a lei seja fria, a leitura de um relatório deveria ser um capítulo a parte, o prestar a atenção as alegações dos causídicos, deveria ser uma constante, principalmente quando se trata de vidas e não de patrimônios tão valorizado pelo nossa legislação, onde, as penas para os crimes patrimoniais são maiores do que os crimes contra a vida. Normalmente, os advogados parecem estar falando para as paredes.

E a novela ? Bem, a novela em si, tratou como sempre trata, das mazelas da sociedade, dos descasos diários com os quais convivemos e compactuamos, da mudança de valores no seio familiar. Não me admiro que autor tenha atrasado tanto a entrega dos capítulos, desgatando os atores, por esperar a última notícia do jornal, pois todos os escândalos apresentados no folhetim foram praticamente notícias de jornal. Palmas para a obra prima do autor, mas talvez nada mude, talvez o autor seja uma andorinha que fez seu verão sozinha. Ou não, quem sabe ?

Clara encontrou uma Helena, mas quantas Claras ainda esperam por sua Helena ? Quantas Helenas existem sem condições financeiras de cuidar de suas Claras ? Ainda faltam instituições, principalmente públicas que, além de cuidar dos deficientes (em qualquer grau de deficiência) possam proporcionar condições também às famílias para que continuem a seguir seu dia-a-dia. Não existem tantas Helenas com condições financeiras para proporcionar um cuidado maior às suas Claras.

Em relação ao Francisco, não entendo o porque não foi questionado a guarda compartilhada, tão defendida e aplicada hoje em nossos tribunais.

Não vou me ater às mazelas apresentadas pelo folhetim, até porque todas as mazelas que ali se fizeram presentes, fazem de alguma forma parte do nosso cotidiano e entendemos o recado. E o meu objtivo foi falar apenas das reflexões que tive em relação a cena do julgamento.

Falei de Claras e Helenas pelo fato te conhecer uma mãe que precisa trabalhar diariamente como empregada doméstica e não encontra uma instituição que cuide de seu filho, portador de encefalopatia crônica não progressiva, em horário integral, mas a vida continua.

Isso sim é Páginas da Vida.

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